Complexo estufa-cisterna ensina a reutilizar água da chuva
Projeto da Prefeitura de Hortolândia sensibiliza pessoas de todas as idades a preservar o ambiente e a mudar de atitude para manter a vida no Planeta
Quem vai ao parque Creape (Centro de Referência em Educação Ambiental Parque Escola), no Jardim Santa Clara do Lago, em busca de sombra e opções de cultura e lazer, como o “Quiosque da Leitura” e o museu de história natural, por vezes não se dá conta que o espaço abriga outros tesouros, escondidos em meio a árvores, pássaros e flores. Um deles é o “Complexo Estufa: Cisterna”, que vem ensinando aos visitantes como reduzir o consumo de água tratada, por meio da reutilização da água da chuva.
Além de estufa, com viveiro de mudas, o complexo abriga composteira, espiral de ervas medicinais e cisterna, utilizada, desde fevereiro de 2012, para armazenar água da chuva, que irriga todo o ecossistema. Desde então, a cisterna tem se mostrado importante ferramenta pedagógica nas aulas de educação ambiental. É que, durante as visitas monitoradas ao parque escola, alunos da rede pública, particular e visitantes de todas as idades têm a oportunidade de ver, na prática, as muitas maneiras do reuso da água e sua importância estratégica para a manutenção da vida no Planeta.
Vencedor do prêmio “Ação pela Água”
Este projeto da Prefeitura de Hortolândia, realizado por meio da Secretaria de Educação, venceu o 6º Prêmio “Ação pela Água/2012”, do Consórcio PCJ (Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí), na categoria Iniciativa Pública - Educação Ambiental. Criado na gestão passada e mantido no governo do prefeito Antonio Meira, o projeto é assinado pelos professores Ângela Júlia Ghiraldelli, Regiane Sofia Valério e Bruno Ricardo Marques Dutra e tem a pretensão de “contribuir para a formação de cidadãs e cidadãos que busquem cotidianamente a construção de sociedades sustentáveis, aprendendo e educando em sua prática”, informa o documento.
As metas vão além do espaço escolar e prevêem tanto o incentivo ao aproveitamento correto das águas pluviais por parte da população, quanto um empurrãozinho na mudança de atitudes, incutindo na população “a necessidade de que toda casa urbana tenha pelo menos um sistema simples de aproveitamento da água de chuva”. A bióloga responsável pelo projeto, Ângela Ghiraldelli, sabe que trabalhar a educação ambiental não é tarefa simples, muito menos fácil. “É a conta-gotas”, explica. “Mudar a atitude de alguns frente ao meio ambiente é um processo longo e demorado, mas a gente não desiste, porque acredita no que faz”, afirma.
Andréa Borges R. Dias, gerente de Sensibilização e Gestão do Consórcio PCJ, parceiro da Prefeitura, entende que o projeto, de certo modo, é fruto de ações de conscientização ambiental do próprio consórcio. “Hortolândia participa da Semana da Água desde 1997”, ressalta. “Esse projeto é extremamente interessante, pois busca incentivar a prática do aproveitamento de água de chuva para usos menos nobres, ou seja, rega do jardim, lavagem de pisos, dentre outros, economizando água potável. Em uma região como a nossa, de escassez hídrica, a busca por soluções locais é muito valiosa”, assinala.
Ângela diz que o prêmio trouxe reconhecimento, maior número de visitantes e algo a comemorar: “Aumentou o sentimento de coletivo, por parte da população, de que o parque é um espaço que todos devem cuidar, o que reduz os casos de depredação”, afirma.
Surpresas durante a visita monitorada
Embora o parque Creape funcione todos os dias da semana, das 6h às 20h, com entrada gratuita, as aulas de educação ambiental no complexo precisam ser agendadas. Elas acontecem de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. O parque fica na Rua Bolívia, 290, no Jardim Santa Clara do Lago.
Feito o agendamento, a visita começa no Viveiro Embaúba, cujo nome celebra uma espécie nativa da Mata Atlântica, existente no parque, com folhas que lembram mãos de gigante. Na estufa, a semente é mostrada ao visitante como o local “onde dorme a planta”, que precisa de “berço” (o canteiro), “lençol” para cobrir-se (a terra na semeadura) e alimentação (água e adubo) para crescer, se desenvolver, dar flores, frutos e novas sementes.
Na estufa, uma espécie de maternidade vegetal, as crianças conhecem sementes de espécies variadas, como a Capuchinha (flor alaranjada e comestível, com gosto de agrião), o Comigo-ninguém-pode (venenosa) e a Babosa ou Aloe vera (medicinal, usada como restauradora e cicatrizante).
Em seguida, vem a composteira, onde folhas, galhos e outros materiais vindos de podas, vão lentamente se transformando em adubo orgânico, materializando aos olhos dos presentes a Lei de Lavoisier: “Na natureza, tudo se transforma.”
“A aparência é de um lixão, mas é a vida em transformação”, adverte a bióloga. Segundo ela, as crianças se espantam quando os educadores usam um termômetro no centro da pilha, que pode atingir de 40º a 45ºC. Ao redor da estufa, pneus velhos e garrafas plásticas (pet) são reaproveitadas para marcar a trilha que conduz às hortas e à espiral de ervas medicinais.
O canteiro, no formato de caracol, é feito com massa à base de argila, sacos de areia, água e outros elementos naturais. Como todo material orgânico, a estrutura, onde estão plantadas espécies como lavanda, espinheira-santa, erva cidreira, manjericão, hortelã, cavalinha e poejo, decompõe-se com a chuva e a passagem do tempo e precisa ser refeita periodicamente.
Ao lado, há canteiros de apoio, com outras plantas, algumas decorativas, outras medicinais e comestíveis, como feijão andu, feijão carioca, camomila, boldo, alface, couve, salsa, cebolinha, chicória, rúcula, almeirão, alfavaca e girassol. A horta auxilia nas aulas práticas para crianças e adultos.
Por fim, chega a cisterna, um reservatório, pintado com tinta natural à base de argila, capaz de armazenar 20 litros de água da chuva, e o sistema de irrigação. Regiane Valério, educadora ambiental integrante do projeto, explica como funciona a engenhoca: “A água cai na tela do viveiro, escorre pela calha e vai para o cano que alimenta a cisterna. A primeira água, a que lava o telhado, é descartada. A outra é armazenada e usada para irrigar a estufa, a parte fechada do viveiro, responsável pela produção e recuperação de mudas, os canteiros e as hortas.”
Ao final do passeio, os visitantes são convidados a se sentar num banco feito com a mesma técnica da espiral, a “Superadobe”, onde relatam a experiência no complexo, em meio a tanta vida em transformação. A surpresa se completa com uma revelação: além de argila, areia e água, outro elemento natural é usado para dar liga à mistura: estrume de vaca! Em meio a risadas e caras de espanto, a lição se completa. Na natureza, a transformação é a regra, inclusive a de atitudes.
Conscientização
“Queremos contribuir para fazer pessoas mais cidadãs, sensíveis e responsáveis pelo Planeta, com consciência ambiental, porque aqui há também resgate de valores: trazer a criança para a possibilidade de observação, saber reconhecer as espécies, sentir-se responsável e integrada ao meio ambiente”, ressalta Ângela Ghiraldelli.
Para a secretária de educação, Cleudice Baldo Meira, o projeto de Educação Ambiental da Administração, que engloba as “Hortas Escolares” e o “Complexo Estufa/Cisterna”, busca “fortalecer o trabalho educacional voltado à formação de valores sociais, culturais e alimentares relacionando-os à saúde, cidadania e qualidade de vida no qual nossos alunos, por meio de um trabalho interdisciplinar, possam vivenciar e desenvolver ações na escola e no nosso Parque-escola, o Creape”. O objetivo é oferecer aos inscritos na rede municipal a oportunidade de vivenciar situações práticas que enfoquem a sustentabilidade do Planeta, contribuindo para a formação de seres humanos mais éticos, solidários e responsáveis.
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