Hortolândia discute direitos da criança e do adolescente
Evento realizado pela Prefeitura e CMDCA reuniu cerca de 300 pessoas
“O que queremos garantir de direitos para nossas crianças e adolescentes?”. A questão, levantada pelo psicólogo Christian Sasaki, na manhã desta quarta-feira (12/09), norteou os debates da 3ª Conferência Lúdica Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. O evento, promovido pela Prefeitura de Hortolândia, em parceria com o CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), reuniu ao longo do dia quase 300 inscritos, inclusive crianças, jovens e integrantes de 15 organizações sociais atuantes no segmento, no município. O evento aconteceu no auditório da FACH/Uniesp (Faculdade de Hortolândia), no Jd. Amanda, e contou com a presença do prefeito Angelo Perugini, bem como de diversos secretários municipais e de representante do Conselho Tutelar.
“’Quanto maior o seu destino, maior o preço’, diz um provérbio celta. Nada é fácil, mas vale a pena juntar nossas forças para fazer o bem. É por vocês, crianças e jovens, que estamos aqui, para juntarmos nossos pensamentos e nos prepararmos melhor. Vivemos um momento de transformação da vida humana, que exige de nós muito esforço e competência. Em trinta anos, o mundo mudou muito, muito mais que nos últimos 2 mil anos. São mudanças que afetam especialmente as nossas crianças. Precisamos de atitude, mais do que aquilo que o dinheiro pode comprar ou do que as estruturas podem exigir. Precisamos ter sentimento, afeto para transformar. Precisamos ter amor pelas pessoas, não somente por nosso filho, nossa esposa, nosso parente, mas também por alguém que às vezes nem conhecemos”, afirmou o prefeito, dirigindo-se aos servidores municipais que atuam nas redes públicas de atendimento (entre as quais as de educação, saúde e inclusão social), assim como aos educadores sociais do Terceiro Setor.
Para Átila Paz, presidente do CMDCA e assessor de Proteção Especial da Secretaria de Inclusão e Desenvolvimento Social, a presença do prefeito no evento mostra a importância que o poder público confere aos direitos da criança e do adolescente em Hortolândia. “Nosso objetivo é conscientizar e mobilizar toda a sociedade. A conferência é o espaço de discutir direitos. Precisamos ouvir mais as crianças e os adolescentes”, ressaltou.
Neste ano, o tema discutido na Conferência foi “Proteção Integral, Diversidade e Enfrentamento às Violências”. Na palestra magna, Christian Sasaki, que atua na área de assistência social há 15 anos, ajustou a linguagem para ser bem compreendido pela juventude, explicando o que significam as políticas públicas e qual a importância da participação efetiva da comunidade, seja nos debates, seja no acompanhamento da execução do que foi decidido em plenária. “As políticas públicas são os programas, os serviços, os projetos de atendimento à população, em diversas áreas. Neste caso, sobre os direitos da criança e do adolescente. É importante que vocês procurem saber o que aconteceu com as propostas aprovadas na conferência de 2015. E, futuramente, com as nossas, as que estamos fazendo hoje aqui. A participação é fundamental, mesmo que, às vezes, dê errado. Vamos guardar estes documentos em mais de um lugar para não perder o trabalho deste grupo no dia de hoje e também para que possamos colocá-las em prática”, ressaltou o palestrante.
Para o secretário de Inclusão e Desenvolvimento Social, Régis Athanasio Bueno, é preciso discutir políticas públicas para a juventude de nova forma, pela via lúdica. “Precisamos inovar para saber comunicar com nossos atendidos”, salientou. Nesta edição, a conferência teve diversas apresentações culturais: o projeto Parada Poética, do poeta e arte-educador Renan Inquérito, e o grupo de rap Klandestinos, de Hortolândia. Na abertura dos debates, crianças do Coral da entidade Casa da Criança Feliz cantaram o Hino Nacional e também o de Hortolândia, com acompanhamento de uma intérprete de Libras, a professora da rede municipal Elaine Ap. da Silva, do AAE (Atendimento Educacional Especializado). A estudante do 3o. ano da Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Tarsila do Amaral, Cibele Dias Barbosa, cantou a versão em português da canção Hallelujah, de Leonard Cohen.
As crianças Lauana Rebeca Frenham, da Casa Betânia da Paz, e Iago Henrique, do Núcleo Vinde A Mim, foram convidadas a compor a mesa de autoridades. Enquanto Iago convidou a todos para praticar cidadania, Lauana, em sua saudação, fez suas as palavras da escritora Ruth Rocha: “Toda criança no mundo/ Deve ser bem protegida/ Contra os rigores do tempo/ Contra os rigores da vida/ Criança tem que ter nome/ Criança tem que ter lar/ Ter saúde e não ter fome/ Ter segurança e estudar. Não é questão de querer/ Nem questão de concordar/ Os diretos das crianças/ Todos tem de respeitar. […] Embora eu não seja rei,/ Decreto, neste país,/ Que toda, toda criança/ Tem direito a ser feliz!!!.” (veja abaixo o texto completo).
A secretária-adjunta de Inclusão Social, Tereza M. Godinho, também ressaltou a importância do debate público. “Conferência é o ato de conferir as políticas públicas. Hoje é o dia que o município de Hortolândia tirou para conferir estas políticas, avaliar as existentes e propor o que precisa crescer e ampliar no que é voltado para a criança e o adolescente.”, afirmou. Nos grupos de trabalho, o debate girou em torno dos cinco eixos temáticos: I – Garantia dos Direitos e das Políticas Públicas Integradas e de Inclusão Social; II – Prevenção e Enfrentamento da Violência Contra Crianças e Adolescentes; III –Orçamento e Financiamento das Políticas para Crianças e Adolescentes; IV – Participação, Comunicação Social e Protagonismo de Crianças e Adolescentes; e V – Espaços de Gestão e Controle Social das Políticas Públicas de Criança e Adolescentes.
“É importante conscientizar a todos de que a criança e o adolescente têm seu lugar na sociedade. Vemos muito a criança se perder para o álcool e as drogas. É uma luta diária. Com este debate para discutir e avançar, nos sentimos mais preparados para enfrentar estas questões, isto nos fortalece muito”, afirma o coordenador do CCSP (Centro Comunitário São Pedro) Laurindo Manoel da Silva. Para a diretora local da entidade Moriah, Maria Alice Alves Romero, a conferência “abre o leque da prevenção com relação à violência. Muitas vezes, nossas crianças são violadas física e emocionalmente e estas informações não chegam para a gente. O debate fortalece para que a criança reconheça o abuso, enfrente e peça ajuda”, explica. Na entidade, inclusive, houve junto aos assistidos uma preparação para a Conferência. “A parte das mulheres, das meninas, foi a que mais me sensibilizou, por causa do medo, da opressão. Foi um dos temas mais importantes debatidos, de uma maneira que todos puderam entender”, comentou a jovem Nicolle Lansarine, de 14 anos, vinculada à entidade.
Segundo Átila Paz, presidente do CMDCA, outro ponto importante da Conferência Lúdica foi a eleição dos 10 delegados que participarão da conferência regional e, posteriormente, da etapa estadual.
Confira abaixo o texto completo de Ruth Rocha, lido no evento:
O Direito das Crianças
Toda criança no mundo
Deve ser bem protegida
Contra os rigores do tempo
Contra os rigores da vida.
Criança tem que ter nome
Criança tem que ter lar
Ter saúde e não ter fome
Ter segurança e estudar.
Não é questão de querer
Nem questão de concordar
Os diretos das crianças
Todos tem de respeitar.
Tem direito à atenção
Direito de não ter medos
Direito a livros e a pão
Direito de ter brinquedos.
Mas criança também tem
O direito de sorrir.
Correr na beira do mar,
Ter lápis de colorir...
Ver uma estrela cadente,
Filme que tenha robô,
Ganhar um lindo presente,
Ouvir histórias do avô.
Descer do escorregador,
Fazer bolha de sabão,
Sorvete, se faz calor,
Brincar de adivinhação.
Morango com chantilly,
Ver mágico de cartola,
O canto do bem-te-vi,
Bola, bola, bola, bola!
Lamber fundo da panela
Ser tratada com afeição
Ser alegre e tagarela
Poder também dizer não!
Carrinho, jogos, bonecas,
Montar um jogo de armar,
Amarelinha, petecas,
E uma corda de pular.
Um passeio de canoa,
Pão lambuzado de mel,
Ficar um pouquinho à toa...
Contar estrelas no céu...
Ficar lendo revistinha,
Um amigo inteligente,
Pipa na ponta da linha,
Um bom dum cachorro quente.
Festejar o aniversário,
Com bala, bolo e balão!
Brincar com muitos amigos,
Dar pulos no colchão.
Livros com muita figura,
Fazer viagem de trem,
Um pouquinho de aventura...
Alguém para querer bem...
Festinha de São João,
Com fogueira e com bombinha,
Pé-de-moleque e rojão,
Com quadrilha e bandeirinha.
Andar debaixo da chuva,
Ouvir música e dançar.
Ver carreira de saúva,
Sentir o cheiro do mar.
Pisar descalça no barro,
Comer frutas no pomar,
Ver casa de joão-de-barro,
Noite de muito luar.
Ter tempo pra fazer nada,
Ter quem penteie os cabelos,
Ficar um tempo calada...
Falar pelos cotovelos.
E quando a noite chegar,
Um bom banho, bem quentinha,
Sensação de bem-estar...
De preferência um celinho.
Uma caminha macia,
Uma canção de ninar,
Uma história bem bonita,
Então, dormir e sonhar...
Embora eu não seja rei,
Decreto, neste país,
Que toda, toda criança
Tem direito a ser feliz!!!
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