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Prosas, música e migração valorizam cultura sertaneja de Hortolândia

Prosas, música e migração valorizam cultura sertaneja de Hortolândia

Projetos desenvolvidos no município fortalecem a cultura caipira

 

A história da música caipira vivida em Hortolândia é tão intensa que é confundida com os sentimentos mais profundos, e ao mesmo tempo simples, cultuados nos seus atores. As prosas lembram a rota dos tropeiros, a riqueza dos migrantes sertanejos e a sabedoria popular, que continuam influenciando e despejando alegria nos diversos pontos da cidade. De uma Jacuba, antes passagem pelos boiadeiros, Hortolândia é hoje um pólo industrial. Mas essa nova estrutura não pretende substituir a riqueza das letras e ritmos que narram a história de um povo que ficará para sempre na memória.

Da migração iniciou uma cultura. Desde os italianos deportados em condições subumanas até os migrantes de cidadezinhas do interior de São Paulo foram agregando e aprendendo as riquezas e paixões de uma cidade até então não formada.

A história começou quando a cidade ainda era Campinas, passou por Sumaré, recebeu o nome de Jacuba até se transformar na atual Hortolândia. Com a passagem dos tropeiros que descansavam até seguir caminhos para outros locais, a cidade começou adquirir tradições sertanistas.

Em 1958, impulsionada por essa cultura, a região se destacou pela grande produção de leite. Com um vasto campo de criação de gado, a cidade abastecia Americana, Campinas e outras cidades da região.

Enquanto isso, Hortolândia fortalecia a música raiz. Naquela época as apresentações de catira e viola eram feitas nas fazendas existentes na cidade.

Os finais de tarde, até altas horas da noite, eram cheias de boas surpresas: leilão, jantar típico rural, música e muitos ‘causos’. “O céu lembrava o clima da roça com seus aspectos culturais e históricos”, lembra o músico sertanejo que agitava a cidade na época, Toninho Ghiraldeli.

Aos 79 anos de idade, “Seo” Toninho continua sendo referência da música raiz em Hortolândia. Ele fazia parte da dupla mais conhecida da cidade: Toninho e Salvador. Mesmo em uma cidade prestes a ser industrializada, a união nos bailes e as culinárias compartilhadas, marcavam uma época que a vida andava mais devagar. “Com a gente não tinha tempo ruim. Eu e meu parceiro, que já é falecido, fazíamos questão de animar as festas com os nossos dotes musicais. Eu admirava muito o Salvador, qualquer instrumento que desse nas mãos dele, ele tocava”, recorda.

Depois de 15 anos, em uma tarde, como aquelas da roça em que o sol se despedia e a comunidade começava a se locomover para uma roda de causos, Mestre Chiquinho bateu na porta de Toninho. O objetivo da visita não era preparar uma festa, mas sim conceder à população hortolandense o direito de conhecer uma cultura que havia se apagado. “Ele nem me conhecia. Bati na casa dele com a cara e a coragem e o convidei pra fazer parte da Cia Rosa dos Reis. No começo ele resistiu bastante, mas hoje a gente vê que a ideia valeu a pena”, relata o precursor do projeto de música raiz de Hortolândia, Francisco Aparecido Borges, o Mestre Chiquinho.

Com sanfona, reco-reco, caixa, pandeiro, chocalho, violão e outros instrumentos seguem os foliões pela noite adentro em longas caminhadas levando a Bandeira, estandarte em tecido, que simboliza respeito. O grupo especial de músicos representa a Cia de Santos Reis, cantadores trajes coloridos, entoam versos que anunciam o nascimento do menino Jesus e a história dos Reis Magos. 

Os grupos foram reconhecidos em diversas premiações nacionais. O Projeto da Companhia de Santos Reis Rosa dos Anjos, por exemplo, conquistou o Premio Mestre Duda 100 anos de Frevo, realizado pelo Ministério da Cultura. O grupo ganhou um recurso de R$10 mil.

Hortolândia já foi cenário, ao menos por duas vezes, do Caminhos da Roça, programa de música raiz da EPTV (Emissora Paulista de Televisão).   O palco caipira foi concedido pelo professor de História, Eduardo Sgott, em uma chácara próximo ao Jardim Amanda. O professor conta que já teve contato com duplas como Milionário e José Rico, João Mineiro e Marciano, Tião Carreiro e Pardinho, José Fortuna, entre outros.

Hoje, Hortolândia pode vivenciar muito dos costumes cultuados antigamente. A cidade conta com três grupos de música raiz admirados em todo Brasil: CIA Rosa dos Reis, Pioneiros da Catira, Orquestra de Viola, além de diversas duplas sertanejas.

A cultura de desfile dos cavaleiros também continua viva. O grupo conta com mais de 50 membros que, em datas especiais, passeiam pela cidade. Nos dias que acontece o rodeio, os cavaleiros desfilam da região do Taquara Branca até a arena.

Os projetos em desenvolvimento aproximam, cada vez mais, a tradição sertanista da cidade. Por meio de amostras, palestras e oficinas, as novas gerações conhecem a importância dos ‘antigos saberes’, como língua, ofícios, técnicas artesanais, culinária e medicina popular. “O resgate é necessário e temos pessoas no município que têm prioridade e paixão para coordenar esses projetos. Isso já prioridade nas políticas públicas municipais”, afirma o secretário de Cultura, Tino Sampaio.

Além do registro das tradições e das riquezas dos migrantes, Hortolândia recorda uma cultura que valoriza as coisas simples como o voar dos pássaros, os sentimentos e a harmonia dos sons. “O projeto de valorização das culturas tradicionais é modelo em Hortolândia. É um incentivo para que as novas gerações preservem a memória, costumes e tradição de seus descendentes. Preparamos uma acolhida aos migrantes, proporcionando sua integração na comunidade e promoveremos novos talentos. Nossas raízes continuam vivas, basta despertá-las”, enfatiza Mestre Chiquinho.

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