Banco de Alimentos de Hortolândia completa 15 anos, promovendo segurança alimentar e sustentando vidas
Em evento festivo, na tarde desta quarta-feira (27/04), a culinarista Bela Gil defendeu que é preciso vontade política para erradicar a fome no Brasil
“Segurança alimentar é política pública de todas as pessoas e uma preocupação de todos. Não dá para dormir em paz quando sabemos que alguém está passando fome”, ponderou a diretora do Departamento de Segurança Alimentar da Prefeitura de Hortolândia, Alessandra Sarto. Durante a celebração dos 15 anos do programa Banco de Alimentos, na tarde desta quarta-feira (27/04), em evento que contou com a presença do prefeito José Nazareno Zezé Gomes, a diretora mostrou como políticas públicas efetivas, como o BAH (Banco de Alimentos de Hortolândia), podem fazer a diferença na sociedade, sobretudo em cenários de tanta desigualdade social, como os do Brasil atualmente. Dados da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em dezembro passado, revelaram uma realidade desoladora: em 2020, um em cada quatro brasileiros viviam em situação de pobreza, o que significa que 50 milhões de pessoas tinham renda inferior a R$ 450 por mês e aproximadamente 12 milhões de brasileiros estavam na extrema pobreza, vivendo com menos de R$ 155 reais por mês.
Em sua fala aos mais de 200 presentes, dentre eles a culinarista e apresentadora de TV Bela Gil, o prefeito relembrou a luta do município para obter alimento para quem mais precisa desde as lutas pela emancipação, em 1991, até a criação do Banco de Alimentos, em 2005. “Passamos por caminhos árduos, muito difíceis. É triste ver milhões de brasileiros de volta à pobreza. A dignidade de cada trabalhador é poder comprar sua moradia, comida, calçado, roupa. Não é mendigar na porta do Fundo Social de Solidariedade nem do Banco de Alimentos. Vamos lutar para oferecer emprego e coisas melhores para o trabalhador. Lembro dos tempos de pleno emprego e sem fome no Brasil. Sei que teremos dias melhores no futuro”, afirmou Zezé Gomes.
Para o secretário de Educação, Ciência e Tecnologia, pasta à qual o Departamento de Segurança Alimentar está vinculado, este “é um programa de resistência para esperançar dias melhores”, ressalta Fernando Moraes.
O evento de aniversário aconteceu no auditório da Igreja dos Santos dos Últimos Dias, no Jd. Sumarezinho, e reuniu representantes de entidades assistidas; da Câmara Municipal; a primeira-dama e presidente do Fundo Social de Solidariedade, Maria dos Anjos Assis Barros; secretários e servidores municipais; e a vice-presidente do Comsea (Conselho Municipal de Segurança Alimentar), Eliane Daluio.
Mais de 4.200 toneladas distribuídas
O balanço anual das ações realizadas pelo Banco de Alimentos, divulgado ontem, mostra que, nesta década e meia de existência, o programa amparou 50 organizações sociais, por meio da arrecadação e distribuição de mais de 4.200 toneladas de alimentos. Em outras palavras, isto quer dizer que, desde sua criação em 2005 até agora, o programa não somente sustentou vidas, por meio da doação de mantimentos, como também contribuiu para valorizar quem trabalha na terra, produzindo alimentos por meio da agricultura familiar.
De acordo com Alessandra, até 2019, eram quatro os doadores principais ao BAH, o que permitiu a distribuição neste ano de 118 toneladas de alimentos, mais de 90% deles oriundos do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e produzidos em assentamentos e grupos ligados à agricultura familiar. Durante os dois anos iniciais de pandemia, cresceu a participação de pequenos doadores, o que viabilizou a doação, em 2020, de 180 toneladas de alimentos e, no ano seguinte, de 216 toneladas de gêneros, sendo 90 toneladas arrecadadas pela campanha Hortolândia Solidária, em parceria com o Fundo Social. Neste período, duas medidas do Executivo, apoiadas pelo Legislativo, foram decisivas: o Decreto Municipal 5407, de 04 de abril de 2020, que tornou o Banco de Alimentos serviço essencial; e a Lei Municipal 3897, de 19 de novembro de 2021, que instituiu a política de segurança alimentar no município. Por meio delas, o poder público pode atender com mais efetividade à carência das famílias, reconhecendo também a importância deste equipamento público de alimentação e nutrição destinado a arrecadar, selecionar, processar, armazenar e distribuir gêneros alimentícios obtidos por meio de doações e campanhas, além dos produtos adquiridos da agricultura familiar, oriundos do PAA. Estes alimentos são distribuídos gratuitamente às entidades que os repassam a pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional. Atualmente, são beneficiadas 18 organizações sociais e 1.650 pessoas em Hortolândia.
Uma delas é a ABPV (Associação Beneficente Pedra Viva – Centro de Treinamento Integral Moriah), que atende 85 famílias em diversos bairros na região do Jd. Novo Ângulo e 110 crianças e jovens. A entidade é parceria do BAH desde o surgimento do programa. Inicialmente eram beneficiadas crianças e adolescentes com a distribuição de alimentos e também com a realização de cursos e treinamentos sobre alimentação saudável. Durante a pandemia, o auxílio ampliou-se com a doação de cestas de alimentos e hortifrútis a 350 famílias cadastradas pela organização, entre 2020 e 2021.
Agroecologia e sustentabilidade
A trajetória do Banco de Alimentos coincide com as bandeiras levantadas pela convidada especial neste aniversário de 15 anos, a culinarista Bela Gil, mestra em Ciências Gastronômicas pela Universidade de Ciências Gastronômicas da Itália (Unisg), com ênfase no sistema global da alimentação, e bacharelada em nutrição pela Hunter College em Nova York, que falou sobre “A importância da alimentação saudável e sustentável”.
Ativista da agroecologia, Bela acredita na transformação do mundo (ambiental, cultural, nutricional) pela alimentação. Neste sentido, para ter uma alimentação mais saudável, numa perspectiva sustentável, cinco pontos ou “acessos” são fundamentais: obter conhecimento, ter condições financeiras, acesso físico/geográfico e a políticas, assim como disponibilidade de tempo. A culinarista defende ainda que é possível erradicar a fome no Brasil, uma tarefa que demanda “vontade política”. Para Bela, a existência de uma política pública no Brasil como o Banco de Alimentos é um bom exemplo destes acessos transformadores, favorecido pelo poder público. “É um programa de extrema importância, como vemos aqui hoje”.
Mas, para ela, o que é sustentabilidade? “Sustentabilidade é algo que possa sustentar vidas. Hoje em dia, a gente está muito dependente de uma certa agricultura, de uma produção e um consumo muito mais destrutivo de vida, no solo, na fauna, da flora e, quando a gente parte para o consumo, de ser humano. O consumo de produtos ultraprocessados é muito deletério e maléfico, quando frequente, para a nossa saúde. A minha definição do sustentável é isso: uma comida pela vida e para a vida e isso tem que estar contemplado na cadeia inteira, desde a forma que a gente produz. Sou uma pessoa que critica bastante as monoculturas, que a gente sabe são devastantes para o solo e têm os problemas sociais relacionados a isso. Sou a favor da agroecologia, a agricultura voltada para a vida, que mantém a vida do solo, da terra, aos animais, as pessoas que ali trabalham e produzem comidas que são saudáveis para a nossa saúde”, explica Bela Gil.
Um pouco mais sobre o Banco de Alimentos
O Programa Banco de Alimentos beneficia faz parte da estrutura operacional do SISAN (Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) e, em consonância com a meta de erradicação da pobreza extrema, atua como equipamento público multifuncional, buscando potencializar a articulação com outras políticas sociais relevantes para o alcance da população mais vulnerável, por meio do desenvolvimento de ações de Geração de Renda e EAN (Educação Alimentar e Nutricional).
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