Reeducandos do sistema prisional recebem certificado de curso da Prefeitura

Onze reeducandos do regime semi-aberto do Complexo Penitenciário de Hortolândia receberam na tarde desta quinta-feira (25/10) certificados de participação do “Curso de Jardinagem, Horta e Viverista”, promovido pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Hortolândia. A solenidade aconteceu nas dependências do CAC (Centro de Arte e Cultura), localizado na Avenida Armelinda Espúrio da Silva, 785, Jardim Nossa Senhora de Fátima.  

Esta é a segunda vez que a equipe do Parque Socioambiental Irmã Dorothy Stang oferece esta formação profissional aos reeducandos do sistema prisional, fruto da parceria com o Complexo Penitenciário. A primeira aconteceu no segundo semestre de 2011. Também receberam certificado integrantes de entidades e ONGs (Organizações Não Governamentais) que fizeram curso de “Horta e Plantas Medicinais”.

Qualificação profissional

O curso feito pelos reeducandos, de 44h, começou no dia nove de agosto e terminou em 18 deste mês. Foram selecionados para a formação os que cumprem regime semi-aberto, que gostam de jardinagem, trabalham na horta da unidade ou eram sitiantes. 

Durante este tempo, eles tiveram oportunidade de aprender sobre tipos e qualidades do solo, materiais adequados ao plantio, EPIs (equipamentos de segurança individual) e como utilizá-los, tipos de espécies vegetais, dentre outros. Após as aulas, às quintas-feiras, das oito ao meio dia, os reeducandos trabalharam no parque, auxiliando em tarefas como varrição e jardinagem. Além de aprenderem uma profissão, com o trabalho tem a oportunidade de reduzir a pena, uma vez que três dias trabalhados significam um dia a menos na prisão.

“Estou muito satisfeito com o resultado”, afirma o diretor substituto do Centro de Trabalho e Educação do Centro de Progressão Penitenciária de Hortolândia, Leandro Magela Alves. “Assim, os reeducandos podem mostrar o outro lado, suas qualidades e valores, e tem oportunidade de concluir um curso e se certificar mais, o que vai ser importante quando alcançarem liberdade plena”, ressalta.

Valorização e oportunidade

“Gostei de fazer o curso. Pude conhecer as plantas, o solo e o significado do que é meio ambiente – significa vida!”, diz um dos formandos, J.A. C., de 55 anos, que já foi agricultor, vendedor e carpinteiro. “Aqui descobri a importância de conhecer plantas que servem de remédio e alimento”, afirmou diante dos presentes, ao receber o certificado. Na expectativa de voltar ao convívio social em dezembro, acredita que o curso pode ajudá-lo a ter uma nova oportunidade de trabalho porque, além de a família morar em região de chácaras, ele volta agora levando conhecimento.

Outro reeducando que fez o curso e espera conquistar a liberdade no início do próximo ano, J.M.G, de 50, também tem a mesma expectativa com relação a trabalho. “Aqui pude conhecer mais sobre os solos, o controle de pragas, o tempo. Antes achava linda aquela jardinagem, mas não sabia de nada, como cuidar e manter. Se pudesse ter meios de exercer esta profissão, seria muito bom porque, além de gratificante para mim, que estou ficando velho, não exige tanta força física. Iria me aperfeiçoando cada vez mais”, afirma.

Emocionado, ao receber o certificado, relatou que, certa vez, ao passar diante do Parque Irmã Dorothy sonhou em trabalhar ali. “Quando aqui iniciei o curso, me vi neste parque, me senti leve como um pássaro. E neste clima de serenidade, de paz, harmonia e, por que não, felicidade -- porque na verdade a felicidade existe nas coisas mais simples! --, mais de uma vez tive razões de me sentir feliz”, contou, agradecendo o empenho da equipe técnica do Parque Socioambiental da Prefeitura. “O curso de Jardinagem e Horticultura, apesar de ser um curso técnico, nos dá, além do conhecimento, o privilégio do saber e o prazer de executar uma terapia de muito valor, uma atividade que nos proporciona satisfação. E essa satisfação se torna mais completa quando acabamos nos envolvendo com pessoas comprometidas com um bem maior, pois o comprometimento com o meio ambiente traduz-se em comprometimento com a vida e através desse caminho conseguimos adquirir valores fundamentais nas nossas vidas. E assim passamos a enxergar melhor e através dessa consciência podemos contribuir efetivamente para um mundo melhor”, afirmou. 

Técnica de enfermagem da USF (Unidade de Saúde da Família) Santa Esmeralda, Fátima das Graças Santos Pires, também está entre os que receberam certificado. Satisfeita, diz que o curso de “Horta e Plantas Medicinais”, de 24h, agregou conhecimentos. Foi uma chance não só de aprender, mas também de repartir com os demais o que já sabia como “naturalista” desde que nasceu. Hoje, divide com os colegas de trabalho os frutos da oficina, fazendo sucos variados com as ervas plantadas no jardim da unidade, tais como cenoura, laranja e manjerona; limão, inhame cru e manjerona.   

Colher os frutos

Segundo a diretora de Meio Ambiente da Prefeitura, Eliane Nascimento, além dos aspectos positivos ressaltados pelos alunos, os cursos ministrados no Parque Irmã Dorothy tem o objetivo de preparar mão de obra para o segundo viveiro municipal, que será instalado dentro do projeto Sigah (Sistema Integrado de Gestão Ambiental de Hortolândia). A ideia é usar os reeducandos já formados para trabalhar no local e mantê-lo. “Conhecimento ninguém tira”, destaca Eliane. “Além de usarem o que aprenderam aqui profissionalmente, isto segue com eles na vida como valorização pessoal. Tem perspectiva de trabalho”, afirma.