Oficina de capacitação possibilita ingresso de deficientes intelectuais no mercado de trabalho
Nos três últimos anos, nove jovens foram encaminhados para empresas da região
Alexandre tinha tudo para nascer sem nenhuma deficiência. Um atraso na hora de fazer o parto provocou encefalopatia crônica (causada por falta de oxigenação no cérebro). Apesar da diferença no controle motor, o jovem, de 31 anos de idade, realizou o sonho de ingressar no mercado de trabalho. Ele, como os 40 jovens que participam da Oficina Terapêutica de Capacitação, desenvolvida pela Prefeitura de Hortolândia, no Cier (Centro de Integração de Educação e Reabilitação), sonham em um dia serem reconhecidos como bons profissionais.
Recentemente, Alexandre de Souza foi contratado pela empresa Wickbold (fabricante de pães e derivados de trigo). Ele foi admitido para trabalhar como auxiliar de produção. Hoje, Souza acredita que conseguiu superar pelo menos uma das barreiras impostas pelo preconceito das pessoas ‘normais. “Sinto-me muito alegre por trabalhar. Ajudo na produção. Antes de começar senti medo. Mas agora percebi que eu consigo”, conta o jovem.
“Toda vez que o Alexandre chega do trabalho, ele me conta o que aprendeu e sobre seu relacionamento com os colegas de trabalho. Ele sente muita satisfação. Pra nós que somos pais, é muito gratificante”, conta Claudia Aparecida Pezoto de Souza, mão de Alexandre.
A oficina atende 20 jovens e adultos, no período da manhã, e 20 no período da tarde. Os cursos são destinados, especialmente, para os alunos que têm deficiência intelectual. “Os alunos com deficiência intelectual são os mais difíceis de serem contratados, comparado às outras deficiências, como a física e auditiva. Geralmente, as empresas dão prioridade para aqueles que não tem nenhuma parte da cognição comprometida”, afirma a pedagoga, responsável pela oficina, Aparecida Edna Gonçalves.
Aparecida trabalha no Cier há 11 anos. Formada em Pedagogia, com especialização em deficiência mental, há três anos ela dedica sua profissão à formação dos jovens para o mercado de trabalho. “Tenho satisfação em ajudar esses jovens. Isso já faz parte da minha vida. Sonho que, um dia, todos eles sejam encaminhados para o mercado de trabalho. É necessário tirar deles o peso por ser diferente”, afirma. Desde que entrou no projeto, Aparecida encaminhou oito adolescentes para o mercado de trabalho.
Ao entrar na oficina no Cier, a impressão é que ali é um pequeno centro industrial. Em uma sala funciona a marcenaria. Os instrutores ensinam os alunos a produzirem produtos como cadeiras, vasos, brinquedos pedagógicos, entre outros. “Estou fazendo uma caixinha. Já ajudei produzir uma cadeira. Gosto muito de aprender. Tenho muitos amigos aqui”, revela Heberson de Souza, aluno do projeto.
Em outra sala acontece a produção de artesanato. Parece que os produtos foram produzidos por profissionais. Bolsas decoradas, mosaicos, que parecem obras de artes, panos de prato. Alguns desses produtos, inclusive, são comercializados.
“O investimento na oficina do Cier, faz parte do projeto de educação inclusiva, valorizado desde o início pela Administração. Cada aluno tem uma necessidade peculiar. Temos profissionais capacitados e apaixonados que consegue desenvolver da melhor forma essas diferenças”, destaca a secretária de Educação, Sandra Fagundes.
Desde 2004, existe um Decreto que impõe às empresas a contratação de deficientes, em cotas que vão de 2% a 5% do total de funcionários. Além da Wickbold, empresas como a farmacêutica EMS, IBM e Bosch já contrataram alunos que participam da oficina no Cier. “Quando contratamos um deficiente, o clima de trabalho fica muito mais agradável. Procuramos sempre contratar pessoas da cidade. É uma política muito importante”, afirma a analista de Recursos Humanos da EMS, Priscila Gonçalves.
Programa de Educação Inclusiva
Estudantes com deficiência visual que frequentam escolas regulares da rede municipal de ensino de Hortolândia são alfabetizadas por meio do sistema Braile, um alfabeto convencional cujos caracteres são identificados por meio de relevo que a pessoa sem visão distingue pelo tato. Para oferecer o serviço especializado, a Secretaria Municipal de Educação equipou todas as unidades de ensino com material pedagógico em Braille, além de treinar os professores para ensinar a ler, escrever e operações matemáticas por meio da ferramenta pedagógica inclusiva.
Há seis anos, a Prefeitura investe no Atendimento Educacional Especializado (AEE) aos alunos com deficiência visual, cegueira e visão subnormal. Para isso, todas as escolas do Ensino Fundamental e Educação Infantil receberam o kit escolar para o deficiente visual.
O kit Braille é composto por 19 itens, entre eles, alfabeto Braille, alfabeto Braille vazado, blocos lógicos Braille, alfabeto silábico Braille, dominó alto relevo Braille, número e quantidade Braille, material dourado, lousa magnética, kit baixa visão, estojo Braille, sólido geométrico em Braille, números e sinais Braille e loto leitura Braille.
Os materiais são para uso diário em sala de aula e auxiliam os alunos no processo de alfabetização, leitura, produção de textos e na matemática.
Além disso, treze escolas da rede municipal de ensino de Hortolândia disponibilizam Salas de Recursos Multifuncionais para atender alunos com qualquer tipo de deficiência: intelectual, visual ou auditiva matriculados em unidades de ensino regular. Para atuar nessas salas, a Secretaria de Educação contratatou 15 professores especializados. Os espaços também contam com equipamentos e materiais pedagógicos específicos.
No ano de 2011, cerca de 260 alunos com necessidade educacionais especiais estão matriculadas na rede regular de ensino municipal e recebem atendimento educacional especializado.
A Secretaria de Educação possui 51 profissionais habilitados para atuar com alunos com necessidade educacionais especiais , sendo 30 em atuação direta nas unidades escolares de Ensino regular e 21 no Cier (Centro Integrado de Educação e Reabilitação).