Pesquisadora da Educação Infantil, Emília Cipriano Sanches, da PUC/SP, destaca professor como formador de mundos
Palestra abriu Jornada Pedagógica e Cultural da Prefeitura
“Quem educa sonha, busca, procura, enfrenta desafios. Quem não sonha não permite que o outro sonhe”, afirmou a Profª Dr ª Emília Cipriano Sanches, durante as palestras de abertura da Jornada Pedagógica e Cultural deste ano, que abordaram o tema “Reflexões sobre as competências para ensinar e a organização do ensino. A importância do planejamento e o papel do professor neste processo”. Realizadas pela manhã e à tarde, na quinta-feira (31/01), em períodos alternados para atender aos profissionais da Educação Infantil, que se revezaram entre atividades de formação e planejamento, as apresentações da convidada ressaltaram a figura do professor como formador de mundo.
“Na Educação Infantil, o professor é um construtor de identidades humanas, um formador de mundos”, revela a doutora em Educação e mestra em Psicologia da Educação pela PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica de S. Paulo). “É um educador que marca vidas, de tal jeito, que às vezes esta criança nunca esquece. É alguém que lida com mil ideias, com vidas únicas, e também com o fator tempo.”
Planejamento flexível
Neste início de semestre letivo, ao abordar a questão do planejamento pedagógico, destacou o fator tempo, tão acelerado nos dias de hoje, como elemento relevante. “Como lidamos com os nossos tempos? Que tempo damos para nós e para o outro?”, questionou. “Há o tempo interno, o tempo da vida, o tempo calendário, o tempo-espaço, o tempo coletivo. Quais os benefícios de usar este tempo?”, indagou. Ela ressaltou a importância de planejar com flexibilidade e sensibilidade, o que inclui pensar sobre os momentos que não voltam mais, de se preparar para a convivência adulto-criança, de saber perceber o tempo dela e de como se organizar para dar sentido a eles.
A pesquisadora defende que o planejamento não é uma mera formalização de um plano de aulas e atividades pedagógicas. Deve ser uma construção coletiva, baseada em princípios e referências, feita em cima de algo que tenha sentido para todos os envolvidos, com flexibilidade para acolher e que sirva como norte. O momento que antecede as aulas é o de buscar o que chama de “unidade na diversidade”.
“É claro que cada grupo tem características próprias, mas há princípios que nos unem, que servem de referência”, explica Emília. “Qualidade do trabalho e foco na aprendizagem, por exemplo. O que significam? Respeito à individualidade das crianças? Então, não faz diferença se é uma escola central ou da periferia. Estes são princípios que abraçamos. O que quero com a educação do município? É trabalhar com o princípio da humanização?”, propõe.
Segundo Emília Cipriano Sanches, a Educação Infantil passa por outras referências. O espaço de ensino-aprendizado é diferente dos demais, não pode mais ser o de estudantes enfileirados. Também é fundamental que o professor saiba dar vida e sentido aos materiais usados em sala, levando em conta a história de vida de cada um e tendo uma escuta afetiva para com a criança.
Diante de um auditório lotado e atento, a educadora defendeu o respeito às características humanas de cada criança e a importância de acolher o aluno com um ser único, num contexto com diferenças éticas, estéticas, religiosas, culturais, ambientais, familiares, dentre outras. Defendeu, ainda, a não idealização da figura do próprio professor, da criança, da escola, do projeto pedagógico, da família ou da sociedade onde o aluno está inserido. “É preciso vislumbrar o contexto, fazer a leitura da realidade e um combinado com cada grupo. A escola pública tem que ser inclusiva, não só de portadores de necessidades especiais, mas de necessidades econômicas, culturais, sociais, relacionais”, afirma.
Outro aspecto apontado como relevante, nesta tarefa, é a intenção. “Para que e como educar? A Educação Infantil deve ou não alfabetizar?”, questiona. Definida a intenção, fica mais claro para o professor definir como utilizar em sala determinada linguagem, como a música, que pode ser usada, por exemplo, com o intuito de que a criança se comunique. “Como apresento a escrita? Por meio da literatura, do sarau, da contação de história? Como apresentar o livro à criança? É preciso lidar com a ideia de que a criança não é um ser fragmentado em emoção e intelecção e que, para ela, o corpo é fundamental”, ressalta.
Por fim, Emília destaca que o comportamento do educador em sala é fundamental, sobretudo quando se considera que, para a criança, ele é fonte de imitação. Daí a importância da coerência entre falar e fazer, do tom de voz usado, da expressão do rosto em sintonia com a voz, dos valores e princípios transmitidos. “Nesta fase, educa-se mais pelas atitudes do que pela fala”, ensina. Segundo ela, o educador precisa saber usar o canal auditivo, uma fala clara; o visual e também atividades sinestésicas, que trabalham o movimento.