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Professores são comunicadores capazes de mostrar realidade, diz Caco Barcellos

Professores são comunicadores capazes de mostrar realidade, diz Caco Barcellos

No 3° dia do Seminário promovido pela Prefeitura, jornalista diz buscar aliados para  retratar desigualdades brasileiras

 

No último dia do 1° Seminário de Inovação, Ciência e Tecnologia, promovido pela Prefeitura, o escritor e jornalista Caco Barcellos instigou os professores de Hortolândia a serem parceiros na arte de traduzir o Brasil para as novas gerações de brasileiros. Assim como faz junto aos aprendizes do programa Profissão Repórter, da Rede Globo, o desafio é retratar a realidade brasileira, e suas imensas desigualdades, a partir dos mais simples, dos mais pobres, a maioria da população brasileira.

Repórter há 44 anos, atuando sempre no “front”, como gosta de dizer, isto é, no contato direto com as pessoas onde elas estão, seja nas favelas, seja em áreas de guerra, Claúdio Barcelos de Barcellos ou simplesmente Caco Barcellos, como ficou conhecido, veio a Hortolândia falar sobre “Comunicação e tecnologia: desafios da educação na Era da Informação”. A palestra desta quarta-feira (21/06) reuniu, no auditório do UNASP (Centro Universitário Adventista de São Paulo), no Parque Ortolândia, cerca de 400 pessoas. Iniciado na última segunda-feira (19/06), o evento foi promovido pela Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia para provocar, entre os educadores do município, o debate em torno do tema “O Mundo mudou. E a escola?”.

Ao retratar sua história de vida, em meio à sua experiência profissional, o jornalista, filho de trabalhadores, analfabetos que valorizavam o estudo por parte dos filhos, destacou o quanto as experiências da infância e da juventude, e o trabalho como taxista, marcaram seu ingresso no jornalismo e como vivencia a profissão, na contramão da cobertura hegemônica. “Pode dar certo uma sociedade que dá tanto enfoque a um grupo tão influente e esquece o outro segmento?”, questiona, destacando o modo como a imprensa nacional enfoca os dois extremos da sociedade brasileira, privilegiando os 71.440 habitantes que ganham 160 salários mínimos por mês (R$ 360 mil), em detrimento dos 108 milhões de brasileiros que recebem entre meio e 1,3 salário mínimo e representam 52% da população, segundo o IBGE. “Quem criou esta sociedade com este modelo que vigora por cinco séculos? Por que tem que ser assim?”, indagou.

Embora receba críticas pela cobertura que faz, sendo apontado como “defensor de bandidos -- bandidos pobres --, porque a crítica intransigente não se mostra incomodada com os crimes dos desonestos ricos”, Caco diz que prefere mostrar outras realidades, iluminar interesses do lado de baixo, ou como ressalta no programa, “tenta ir aonde os outros colegas não vão”. Embora ressalte a qualidade técnica, estética e narrativa do jornalismo praticado no Brasil atualmente, revela profundo incômodo com as escolhas de cobertura, com o que não se faz, com as histórias que não são contadas.

Para ele, o ângulo que escolheu para traduzir o mundo a seu público é uma questão objetiva, por haver no Brasil uma “pequena Suíça” e uma “grande Etiópia”. “É meu dever de ofício mostrar a realidade da maioria, embora seja arriscado, sim”, afirma. “A questão de classe é um ponto central no Brasil. Parece que de um lado (o dos ricos), tudo pode, enquanto do outro lado (o dos mais pobres), nada pode. Os pobres que cometem crimes são fuzilados pelas polícias dos estados. Há colegas, ‘paladinos da justiça’, que fazem elogio à Polícia, são propagadores da violência contra os pobres, mas não se incomodam com os crimes do lado de lá (praticados pelos ricos)”, ressalta.

Ao selecionar os jovens jornalistas que pretendem ingressar no conglomerado midiático do qual faz parte, o maior do País, diz que utiliza como critério não apenas boas notas (acima de 8,5), conhecimento de línguas, a universidade de origem e qualidade do texto, mas como o futuro profissional interpreta a realidade à sua volta. “Qual o nome do filho de sua empregada doméstica? Qual o nome do motorista do ônibus que te traz até a universidade? Qual o nome da favela que você ainda não conhece mas deveria conhecer? Que profissional é este que ignora a pobreza, que desconhece o que está à sua volta? Brasil não é só a elite refinada”, explica. Por fim, apresenta um questionamento que deveria ser comum tanto ao jornalista quanto ao educador, que também é um comunicador. “Qual é a sua escolha: só se dar bem, profissionalmente? Ser bem sucedido? Ganhar dinheiro? Ser repórter é ser alguém menos importante, alguém que vai mostrar a importância do outro, que vai usar a boca, os olhos, os ouvidos para ver a realidade e retratá-la. Por que pensar com a cabeça de coronel?”, questiona.

“O Mundo mudou. E a escola?”

Ao encerrar o Seminário, o secretário de Educação, Ciência e Tecnologia, Fernando Moraes, destacou que a especialidade da educação é a da peregrinação, da viagem interior. O prefeito Angelo Perugini afirmou que a Prefeitura tem projetos estratégicos para o município na área. O principal deles é a implantação do projeto da Escola de Tempo Integral em 20 unidades da rede municipal de ensino. Outra ação importante foi a criação da Diretoria de Inovação, Ciência e Tecnologia na Secretaria de Educação.

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