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“Violência é também caso de saúde”, afirma especialista no atendimento a crianças e adolescentes vítimados

“Violência é também caso de saúde”, afirma especialista no atendimento a crianças e adolescentes vítimados

Palestra faz parte de capacitação oferecida a servidores que compõem a rede de enfrentamento das violências doméstica e sexual em Hortolândia

“Violência não é só caso de polícia. É também caso de saúde, pois causa um grande impacto sobre a rede pública de saúde.” A declaração é da pediatra Dorli Carvalho, especialista que atua na rede de saúde de Campinas, no atendimento, de urgência e emergência, nos casos de violência doméstica contra criança e adolescente. 

Convidada a proferir duas palestras dentro da “Formação para o fortalecimento da rede de enfrentamento das violências”, promovida pela Prefeitura de Hortolândia, por meio das Secretarias de Saúde – Atenção Básica e Especializada e Atenção à Urgência e Emergência, a pediatra ressaltou o grande peso que os casos de violência têm no SUS (Sistema Único de Saúde). 

O fenômeno mobiliza diversos profissionais da área -- de emergencistas a pediatras, passando por clínicos, psiquiatras, ortopedistas, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, dentre outros--, além de serviços públicos diversos, como consultas, exames, internações e benefícios previdenciários.

Violência: um problema social

No entanto, Dorli esclarece que este não é um problema médico típico, mas social, que acompanha toda a história e as transformações da humanidade. “A violência afeta muito a sociedade”, afirma. “Provoca mortes, lesões e traumas físicos e um sem número de agravos mentais, emocionais e espirituais”, esclarece a pediatra. Outro aspecto importante é a diminuição na qualidade de vida da pessoa e da coletividade.

No tocante ao atendimento médico, apresenta novos desafios e evidencia a necessidade de uma atuação ainda mais interdisciplinar e multiprofissional, visando a atender as necessidades dos pacientes. Para Dorli Carvalho, um dos aspectos essenciais no enfrentamento do problema exige mudança de comportamento: parar de ver a violência como algo natural e atuar, intervir e “inclusive denunciar e punir, se for o caso”. 

Violência sexual: “o pacto do silêncio”

De acordo com a especialista, ao contrário do que se costuma pensar, os casos de violência sexual abrangem todas as classes e todos os segmentos sociais. São complexos e multicausais, atingem todas as pessoas e as afetam emocionalmente. Em razão disso, acabam restritos à esfera privada, revestindo-se de sigilo, o que gera entre os envolvidos “o pacto do silêncio”, como se o problema não existisse.

Dentre as conseqüências imediatas da violência sexual estão o trauma psicológico e genital, a transmissão de doenças e a gravidez indesejada. “Tudo o que a vítima deste tipo de violência quer é esquecer o que aconteceu”, afirma. “É uma marca para sempre”, ressalta Dorli. Por isso é fundamental que a equipe de atendimento esteja preparada, treinada e esclarecida para acolher, examinar, medicar, tratar, socorrer e acompanhar, sem gerar novos traumas. É o que se chama de “evitar a revitimização”, causada, dentre outros aspetos, pela repetição de entrevistas sobre a agressão por parte dos profissionais que atendem o caso, por brincadeiras e juízos de valor, pela falta de tato ao abordar a vítima.

Na palestra desta quinta-feira (11/04), Dorli Carvalho, que é responsável pelo protocolo de atendimento às vítimas de violência doméstica contra crianças e adolescentes e pela formação de residentes de pediatria do Hospital Municipal Mário Gatti, apresentou aos presentes o programa “Iluminar”, que serviu de referência não apenas para a região de Campinas, mas também para o Ministério da Saúde, com relação a como deve ser feita a notificação compulsória das violências.

Em março deste ano, o governo federal publicou o decreto 7.958/13, que normatiza o atendimento dos casos de violência pela rede pública de saúde nas cidades brasileiras. “Ele orienta e exige que as cidades construam as suas redes”, explica a psicóloga Ana Lúcia Denadai Schmidt, organizadora da formação e coordenadora do Núcleo de Prevenção das Violências e Promoção da Saúde, do Departamento de Saúde Coletiva. “Com relação a isto, Hortolândia está adiantada”, ressalta, destacando que o curso tem como objetivo implantar no município o serviço de urgência e emergência no atendimento às vítimas de violência doméstica e/ou sexual.

A cidade já notifica os casos de violência desde 2010, quando foi implantada a Ficha de Notificação Compulsória para Violência. Em fevereiro deste ano, na cerimônia de abertura do curso, houve o lançamento da primeira edição do Boletim Informativo formulado pelo Núcleo. O documento mapeia e analisa os dados da violência contra mulheres, crianças, adolescentes, idosos e homens no município nos anos de 2010 e 2011. 

Ao final da capacitação, a ideia é construir o fluxo de atendimento às vítimas de violência sexual específico para Hortolândia. “Cada cidade tem que ter o seu fluxo”, destaca Ana Denadai. “A partir daí, Campinas deve ficar com os casos de abortos legais e violência sexual que geram lesões físicas graves”, complementa Dorli.

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