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Música é conteúdo curricular obrigatório nas 57 escolas municipais

Música é conteúdo curricular obrigatório nas 57 escolas municipais

Hortolândia sai na frente e atende lei federal desde 2010

Cerca de 20 mil alunos matriculados nas 57 escolas municipais de ensino básico de Hortolândia já estão em contato com o ensino da música, que passou a ser conteúdo curricular obrigatório nas escolas brasileiras a partir deste ano. O trabalho começou em 2006 pela educação infantil e foi ampliado para atender a lei federal em 2010 nas unidades de educação fundamental.

A música passou a ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular das redes pública e privada de ensino no Brasil em fevereiro deste ano. Sancionada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 18 de agosto de 2008, a lei 11.769 estabeleceu o prazo de três anos letivos para que as instituições de ensino se adaptassem às exigências.

Desenvolver a sensibilidade

De acordo com a musicista e pedadoga Selma Epifania da Silva Santos, especialista em Comunicação e Educação pela USP (Universidade de São Paulo), coordenadora pedagógica responsável pela área de educação musical do município, o desafio das escolas é “desenvolver a sensibilidade, o gosto pela música, a formação de plateia; elas não têm a obrigação de formar músicos”, esclarece.

Selma destaca que, desde 2006, alunos do berçário ao Jardim 2 das escolas municipais já têm a música como conteúdo curricular. Nessa fase, segundo ela, o importante é trabalhar a sensibilização musical e o desenvolvimento de habilidades através de jogos musicais das 8.400 crianças de zero a cinco anos de idade.

Para tanto, além do uso da bandinha rítmica, os próprios professores confeccionam instrumentos a partir de objetos reciclados. Garrafas de refrigerantes cheias de sementes transformam-se em chocalhos, latas de leite em pó revestidas de plástico viram tambores e lápis com ponteira de borracha, batutas.

As 2.020 crianças atendidas em 38 escolas conveniadas ao programa “Bolsa-creche” também recebem educação musical, segundo Selma. Para que tenham as mesmas oportunidades que os regularmente matriculados nas Emeis (Escolas Municipais de Ensino Infantil), a Secretaria de Educação está treinando 27 professores da rede particular das escolas conveniadas no Centro de Formação Paulo Freire.

Professores especialistas

Nas Emefs (Escolas Municipais de Ensino Fundamental), a música já faz parte da realidade dos 11.500 alunos de 1ª. a 5ª. série desde 2010. Integra o ensino de artes juntamente com o de três outras linguagens: as visuais, as plásticas e as corporais.

Com a vigência da lei 11.769, houve a contratação de professores formados em artes que abordam necessariamente essas quatro linguagens, dentre elas a música, antes deixada um pouco em segundo plano com relação às demais. Algumas escolas da rede municipal, as de Complemento Educacional, passaram a oferecer, no período oposto, aulas específicas de música, com teoria musical, canto coral, percussão e flauta doce, ministradas por professores formados em música.

“A criança se socializa melhor, internaliza melhor os conceitos, fica mais solta e criativa. O ambiente sonoro é mais prazeroso, trabalha a inclusão”, explica Selma Epifania.

Na escola dirigida por Midian de Brito Rangel, a Emef Jardim Santiago, localizada num dos bairros mais carentes de Hortolândia, a novidade é a chegada de professores especialistas em fevereiro deste ano para o ensino de música. Além das aulas regulares de artes, de 50 minutos por semana, há duas aulas de música de uma hora e meia cada, por semana, no período oposto.

Segundo Midian, a educação em período integral retirou as crianças das ruas e deu a elas a oportunidade de acesso a atividades pelas quais não poderiam pagar, dentre elas o teatro e a música. “Desenvolver ritmo é desenvolver equilíbrio e habilidades necessárias ao aprendizado de outras disciplinas; assim, o ensino é interdisciplinar”, comenta.

Na manhã da segunda-feira (13/08), 23 alunos de 4ª. e 5ª. séries participavam da aula de musicalização ministrada pela profª Thaís Cristina Machado. A brincadeira rítmica, de bater as mãos e conversar com a professora ao mesmo tempo, exige raciocínio, coordenação motora, concentração e controle para fazer duas atividades ao mesmo tempo.

“Mais do que aprender música, é um despertar para a música: o ouvir, o desenvolver habilidades, caso no futuro queiram aprender a tocar um instrumento”, diz a professora. Elementos musicais como ritmo, duração e altura são trabalhados em brincadeiras cantadas, jogos de improvisação e escuta.

É justamente o aspecto lúdico que atrai as crianças. “É legal”, diz Lorena Beatriz de Oliveira, 9 anos, aluna da 4ª. série, que pretende um dia aprender a tocar violão . “Aprendemos a fazer brincadeiras legais, a bater com as mãos.”

“Tem várias brincadeiras”, diz Guilherme Henrique Correia de Lima, de 9 anos, aluno da 5ª. série. “Tem as de cantar, as de tocar instrumentos como o tambor e a trava”, conta o garoto, que costuma comentar sobre o conteúdo das aulas de música com primos e amigos.

Na sala do Maternal B, na Emeief (Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental) Leni Pereira Prata, no bairro Novo Ângulo, 17 crianças entre dois e quatro anos, alunos do turno da manhã, aprendem música divertindo-se. Maria Clara, de três, diz que gosta de cantar. Sabrina, de quatro, adora escutar música, enquanto Vinícius, também de quatro, prefere tocar.

Além da bandinha rítmica, eles usam instrumentos feitos com material reciclável. Um cano de papelão furado, revestido de papel e preenchido com grãos de arroz, vira um “pau de chuva”, que reproduz o barulho da água. A garrafa de plástico cheia de grãos de feijão transforma-se em divertido chocalho. Tampinhas plásticas de garrafa coladas em papelão dobrado dão “vida” a castanholas. Tambores surgem a partir de latas de leite em pó recobertas.O adufe, primo distante do pandeiro, é feito com molhos de chaves.

Na segunda-feira (27/08), sob os cuidados da musicista Cristiane Farias de Lima e das professoras Márcia Badan e Daniela Bohme, a turma desenvolvia a acuidade auditiva e o ritmo, enquanto brincava de “Escravos de Jó” e “Bate-tampinhas”. “Bate tampinha no céu, bate tampinha no chão, bate tampinha e tampinha, bate com o coleguinha”, a primeira estrofe da canção que dá o ritmo à atividade, sai ao som de várias risadas. “Eu gosto, porque é lindo”, diz Bruno, de três anos, sorrindo.

“A música proporciona disciplina, dedicação, esforço e também um desenvolvimento maior da sensibilização da criança para tudo o que a rodeia”, ressalta a secretária de Educação de Hortolândia, Sandra Fagundes Freire. “Por isso que a música é tão importante, fazendo parte do nosso currículo. Desenvolve a criança na sua amplitude”, conclui.

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